quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

conselhos...

conselhos para novo ano...


"ouça um bom conselho
que eu lhe dou de graça
inútil dormir que a dor não passa
espere sentado
ou você se cansa
está provado, quem espera nunca alcança

venha, meu amigo
deixe esse regaço
brinque com meu fogo
venha se queimar
faça como eu digo
faça como eu faço
aja duas vezes antes de pensar

corro atrás do tempo
vim de não sei onde
devagar é que não se vai longe
eu semeio o vento
na minha cidade
vou pra rua e bebo a tempestade"
(bom conselho - chico buarque - por chico e eugenia melo e castro)

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

mafaldi.ano...



aiin judiera!
há de ser bom...

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

vá.idades

huuum, hoje é "dia aniversário" e quis me delongar aqui sobre alguns dos achados desse meu ano. com o risco de não me fazer compreensível, optei por fazer uma quase associação livre em texto: escrever o que me veio, na ordem que veio e quase sem censura. eis que compartilho...
alguns sentimentos fizeram-se presentes, a palavra recorrente e tradutora do que muito senti, é a saudade. palavra tupiniquim, que só nós brasileiros temos para traduzir tamanha sensação, mas que apesar da bela tentativa, só cada sujeitinho é que sabe o que ela significa, e no meu caso, só eu sei do quanto ela me fez sorrir quando eu fechei os olhos e as boas lembranças vieram, e como ela mobilizou lágrimas, das correntes e sem aparente fim: cachoeiras, e das quase imperceptíveis que eu só sabia da sua ousada presença quando a sensação da umidade da fina lágrima escorria pelo meu rosto.
pessoas queridas e amadas foram para longe, estão noutros lugares, algumas fazem planos de ficar, outras de voltar, outras ainda não sabem se sabem. até eu por vezes faço meus planos de ir. a distância que me separa de meus amores e de meus afetos não se faz silenciosa em meu peito, mas tenho a garantia e o afago de tê-las em presença dentro de mim.
tive algumas descobertas, e novos olhares para coisas de outrora, difícil esboçar sobre elas. quero então especialmente comentar do quão delicado e do quão imenso é descobrir-se frágil... entender de uma passividade que me permite atuar tal qual sujeito que sabe-se doadora, mas que sobretudo se encontra com suas próprias faltas, que assume-se como alguém que também precisa e pode receber. confesso não me recordar do último colo em que me deitei, mas recordo-me da sensação e dela ainda quero deleitar-me.
algumas pessoas repetidamente me contaram da impressão que tinham do quanto eu sou feliz e do quanto sou forte, e de fato tenho um bocado disso tudo em mim, mas o pesar e a fragilidade habitam aqui também. a sensibilidade atua em ambos os lados, e agradeço por isso. ainda que um suposto desejo de imunidade exista, a verdade é que não conheço nada mais humano do que sentir, e saber-se sujeito no mundo enquanto alguém que se permite aos sentimentos e às razões das emoções.
hoje resolvi mudar de perfume. na loja, o perfume novo que escolhi tem algumas essências semelhantes ao de outrora, no entanto é mais doce, mais leve, mais harmônico, ainda que intenso. a doçura me apetece profundamente, mas sobretudo a feminilidade e a harmonia que esse perfume traz foram instigantes na escolha, escolha da ordem olfativa, diga-se, mas que como os outros sentidos, vem falar de uma busca... a busca de um meio, e o que quero dizer é que posso entender que o meio pode sim ser bom, que ele é o que tenho de mais próximo da tão desejada paz: nem carência, nem excesso.
entra tantas coisas, e eis que consto aqui a minha evidente limitada capacidade de síntese, foi sobretudo muito importante entender que não preciso, tampouco devo, fechar portas, afinal muitas coisas surpreendentes podem acontecer, inclusive as esperadas.
entre tantos sorrisos e lágrimas, entre tantas palavras e tantos silêncios, pude ouvir - acompanhado, em um mesmo momento, de sorriso, lágrima, silêncio e palavras - um especial "eu te amo, fê", de uma pessoa linda, amada, sensível, que me foi imensamente importante e inesperada, que sem saber e sem que eu me desse conta, soube tocar-me, e me fez notar como é bom ser tocada, sobretudo na alma.
o que aprendi graças a tantas pessoas, e graças a uma posição delicada e por vezes angustiante de minha própria escuta, é que tão sublime quanto o que entendo como o mais sublime: o amor, é acreditar... e é nisso que quero insistir, no amor e na crença, no ano que passou, nos meus vinte e tantos anos e nos outros que hão de vir.
(fernanda pereira)

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

"deixa de bobeira, a vida é tão ligeira"



"anda teu andar sem pressa
chega, a boa hora é essa
entra, puxa essa cadeira
tem a tarde inteira

quase que eu perdi o medo
deixa de guardar segredo
deita, espera amanhecer
sabe como deve ser

traz de volta a claridade
arde um sopro de saudade
senta, deixa de bobeira
a vida é tão ligeira

a promessa que eu fiz foi diferente
quando dá voltas parece que é mais perto
não há jeito melhor que jeito certo
quem quer sombra melhor jogar semente
quando for dar um passo, olhe pra frente

saiba bem do caminho na largada
e não vá se perder com tanta estrada
não se pode esquecer do objetivo
não há laço maior que o afetivo
nem amparo melhor que a madrugada"
(música de alessandra leão e letra de juliano holanda - boa hora)
.

.

.

e... "arde um sopro de saudade"

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

reveja o meu caso...


"ninguém sabe quem sou eu
também já não sei quem sou
eu bem sei que o sofrimento
de mim até se cansou
na imitação da vida
ninguém vai me superar
pois sorrio da tristeza
senão acerto chorar
mesmo assim eu vou passando
vou sofrendo e vou sonhando
até quando despertar

dona solução
reveja o meu caso com atenção
a esperança aqui é forte
e mora no meu coração"
(imitação - do sambista baiano batatinha, por juçara marçal e kiko dinucci)

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

fantasia...

"imagina só
que eu desde pequena
provava um bocado
da tua merenda

imagina só
que eu sou da tua sala
carregas meus livros
e eu te passo cola

imagina só
que eu sou da tua rua
abri uma porta
de frente pra tua

imagina só
que o teu cão amigo
só sabe o teu cheiro
quando estás comigo

imagina só
que eu sou tua dama
teu último sonho
a mais viva chama

imagina só
que eu sou tua garota
nós dois para sempre
que não és de outra"
(imagina só - silvio rodrigues, versão de chico buarque)
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.
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felizmente, ainda devaneio... fantasio... sonho... e creio!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

orfeu menos eurídice: coisa incompreensível...



"mulher mais adorada!
agora que não estás,
deixa que rompa o meu peito em soluços!
te enrustiste em minha vida,
e cada hora que passa
é mais por que te amar,
a hora derrama o seu óleo de amor em mim, amada...

e sabes de uma coisa?
cada vez que o sofrimento vem,
essa saudade de estar perto, se longe
ou estar mais perto, se perto
que é que eu sei?
essa agonia de viver fraco,
o peito extravasado
o mel correndo,
essa incapacidade de me sentir mais eu, orfeu;
tudo isso que é bem capaz
de confundir o espírito de um homem.

nada disso tem importância
quando tu chegas com essa charla antiga,
esse contentamento, essa harmonia, esse corpo!
e me dizes essas coisas
que me dão essa força, essa coragem, esse orgulho de rei.

ah, minha eurídice,
meu verso, meu silêncio, minha música!
nunca fujas de mim!
sem ti, sou nada.
sou coisa sem razão, jogada, sou pedra rolada.
orfeu menos eurídice: coisa incompreensível!
a existência sem ti é como olhar para um relógio
só com o ponteiro dos minutos.
tu és a hora, és o que dá sentido
e direção ao tempo,
minha amiga mais querida!

qual mãe, qual pai, qual nada!
a beleza da vida és tu, amada,
milhões amada! ah! criatura!
quem poderia pensar que orfeu,
orfeu cujo violão é a vida da cidade
e cuja fala, como o vento à flor
despetala as mulheres -
que ele, orfeu,
ficasse assim rendido aos teus encantos!

mulata, pele escura, dente branco
vai teu caminho
que eu vou te seguindo no pensamento
e aqui me deixo rente quando voltares,
pela lua cheia
para os braços sem fim do teu amigo!

vai tua vida, pássaro contente
vai tua vida que estarei contigo!"
(monólogo de orfeu, de vinicius e tom, por maria bethania)

sábado, 21 de novembro de 2009

minha ternura
















"não consigo explicar minha ternura. minha ternura, entende...?"
(ana c.)

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

veja você...



"veja você, eu que tanto cuidei minha paz
tenho o peito doendo, sangrando de amor
por demais
agora eu sei a extensão da loucura que fiz
eu que acordo cantando
sem medo de ser infeliz

quem te viu e quem te vê, hein rapaz?
você tinha era manias demais
mas aí o amor chegou
desabou a sua paz
despediu seu desamor pra nunca mais
algum dia você vai compreender
a extensão de todo bem que eu lhe fiz
e você há de dizer: eu agora sou feliz
quem te viu e quem te vê, hein rapaz?"
(veja você, música de vinicius de morais e toquinho, cantam toquinho e clara nunes)

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

minha frô amarela


'nenhum dia tiro você da lembrança...
no coração a saudade fez seu ninho...
volta pra cá pra eu te amar de pertinho'
(vídeo: cordel...)

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

distancia...

"se não houvesse ferrovias para abolir as distâncias, meu filho jamais teria deixado sua cidade natal e eu não precisaria de telefone para ouvir a sua voz".
(freud, 1929, mal-estar na civilização - falando sobre a celebração das pessoas pelas invenções e avanços tecnológicos que suspostamente diminuem as distâncias, quando na verdade possibilitaram que elas aumentassem ainda mais).

domingo, 1 de novembro de 2009

'mancando...'

"também é importante estarmos sempre preparados para abandonar um caminho que perseguimos por algum tempo, se este afinal não mais se mostrar adequado. somente os crédulos, os que exigem da ciência um substituto para o catecismo abandonado, repreenderão o pesquisador por este desenvolver, ou mesmo reformular, seus pontos de vista. de resto, deixemos que um poeta (rückert, nos macamas de hariri) nos console...:

'aquilo a que não podemos chegar voando, temos de alcançar mancando.'

a escritura diz que: mancar não é pecado"

(freud, 1920, além do princípio do prazer)
(figura: hotel room, 1931, edward hopper)

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

frio...




tão exposta...
faz tanto frio.
vou tentar entrar um pouco...
quem sabe a campainha toca,
e haja um cobertor!
(fernanda pereira)

tédio

"- mestre.
uma doença me consome e me inferniza,
a mocidade e o espírito
resulta de uma chaga que nunca cicatriza.

sendo o mais sábio clínico do mundo,
és também filósofo notável,
do peito humano auscultador profundo,
curai-me desse mal inexorável

que me devora o organismo fibra a fibra,
que me enevoa o cérebro e o condensa.
eu tenho um coração que já não vibra
suporto uma cabeça que não pensa.

- o meu amigo tem razão e dessa chaga deveras padece.

contudo, a enfermidade, esse mal que o devora,
é um produto fatal do século de agora
o tédio é uma terrível e mortal loucura
a treva interior, a grande noite escura.

no entanto um choque, um abalo violento
pode curá-lo, creia, apenas num momento.

diga-me: alguma vez amou?

nunca seu peito sangrou por uma paixão ardente?
como a água do mar que se agita e encapela
no soturno rumor do vento e da procela!

- nunca.

- pois bem, meu caro!

procure uma agitação constante
um prazer infindo
um gozo triunfante.

já visitou a grécia, oriente, terra santa?
essas terras que evocam e encantam!
apreciou as belezas da cidade eterna?
que deslumbra e amesquinha a geração moderna!

- em infinitas orgias passei a mocidade
e viajando pela terra, vi a humanidade
como andarilho errante, as mulheres todas
seus lábios beijei em bacanais e bodas.

mulher nenhuma eu vi sobre a terra tamanha
que para mim não fosse uma visão estranha
como parti, voltei, sem encontrar alívio
para esse mal que assim me faz cativo.

- então, como último recurso te receito o circo.

o famoso palhaço que a cidade encanta
palmas e aclamações da população arranca
talvez lhe restitua a gargalhada franca.

- um farsante assim, tão querido e aclamado
tem um riso de morte, um riso mascarado
que encobre a dor sem fim do tédio e do cansaço
foi lá que percebi meu mestre, “sou eu esse palhaço.”
(o tédio, de heinrick heine)

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

'o filme que eu quero viver'


"você me embalou
no teu cartaz
e o filme já morava lá

a chuva caiu
você me escondeu
cheiro de pipoca no ar

e foi aí que tudo escureceu
veio um facho de luz
me cortou
me cegou
me pariu
de bruços, embaixo da cama dormi

a cena final
a luz ascendeu
lá fora não temos dublê

um beijo de sal
seus dedos nos meus
e o filme que eu quero viver

cheiro de pipoca no ar"
(cine star, duo moviola: kiko dinucci e douglas germano - de jonathan silva, kiko dinucci, lincoln antonio...)
.
.
.
sei do filme que quero viver,
e quando ele entrar em cartaz
essa sala de cinema há de ser minha moradia, minha moranoite,
meu sofá e meu colo para deitar.
(fê, por algo que se "mostra", mesmo que se esconda)

sábado, 24 de outubro de 2009

sou eu, entende?

"não é com o teu ser... é com o meu... dá pra entender?... coisas outras no meu mundo ao redor... sei lá? como vou dizer? outros corpos enlaçando o meu desejo... que se seduz fácil pelo lá fora... você linda... você tudo intacto!
... o frescor de fora abala a minha falta de firmeza... você amor porto seguro, certeza, totem de amor para sempre... ao te rejeitar eu rejeito a mim, entende???"
(primeira porta - trecho da peça "de como fiquei bruta flor...", de dramaturgia de claudia schapira e direção de cibele forjaz)

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

ato

o sujeito por vezes vê-se vivendo tal qual autômato, reproduzindo ações e rotinas que não fazem sentido, por vezes até questiona-se do porquê, porém permanece reproduzindo. sensações tais quais as da depressão são justamente fruto das ações sem sentido, e perdendo-se o sentido não há mais impulsos para ir para qualquer lado.
situações como essa, podem ser comparadas com um jogo de poker: só acabam se você sai da mesa, levanta e sai; pois elas podem não ter fim, podem levar a cronicidade autômata (auto.mata). no entanto, é possível entender que os verdadeiros ganhos podem estar fora da mesa, que aquele jogo não é bom para ele, que suas cartas não servem para aquela rodada, e que, sobretudo, o maior blefe é aquele que engana o próprio sujeito. e para levantar da mesa - e sim, pode levantar - é preciso um ATO. um ato em direção ao sentido, em direção a possibilidade, em direção a algo que é diferente do gozo, do excesso ou da carência, mas que é da ordem do prazer, da homeostase possível das coisas, e sim, é possível.
levantar e sair.
apelo ao ato.
(fernanda pereira - reflexões)
(figura: autor desconhecido)


quinta-feira, 22 de outubro de 2009

autoconservação

no processo de identificação, o sujeito identifica-se com seus semelhantes para assegurar-se humano. quando a agressividade aparece em primeiro plano, priorizada na projeção, isso pode ser um problema, e nesse processo, algo pode transformar essa agressividade em violência, que é o caráter paranóico, no qual a imagem de si é vista como sendo a imagem do outro, e uma espécie de persecutoriedade se dá em relação a própria imagem. dá-se então acontecimentos como ataques de pânico, estranhezas do ambiente, estranhamentos físicos - imagens e uma autopercepção que não é familiar ao sujeito, a princípio.
estamos pensando aqui num fragmento do processo da formação do eu, e quando surge esse eu, surge a pulsão de autoconservação, aquilo que define uma unidade. movimentos que coloquem essa integridade em risco, podem soar ameaçadores.
como exemplo, temos a mudança de um sujeito para um novo país. pode não haver sintonia do eu com o ambiente, é egodistônico. o que pode haver é uma ameaça imensa de desintegração do eu, pode-se então sentir pânico, ou mesmo perder a coerência do pensamento... a pulsão de autoconservação é acionada e o sujeito pede ajuda. porém, a pulsão sexual (aqui como sendo aquilo que coloca o eu em risco) atua como uma força que quer fazer escapar o desejo, e entra em choque com a pulsão de autoconservação, que é a que busca de preservar a integridade.
trata-se de um embate entre aquilo que quer preservar o eu e aquilo que o coloca em risco.
trata-se de refletir acerca da vivência e transformá-la em experiência que o coloque como uma possibilidade de existência, de sujeito no mundo diante das possibilidades. eis a autoconservação.
(fernanda pereira - reflexões de fragmentos a la fani)
(figura: room in brooklyn, edward hopper)

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

possibilidade

o homem tem horror à solidão física, isso faz com que ele se identifique com o outro.
trata-se do chamado por kant, nietzshe, tocqueville e barrays de "rebalho", ou "gregário", do movimento das agregações e das buscas.
dá-se, entre outros, as vivências ou mesmo a possibilidade de experiências. a distinção entre elas existe. na vivência há vida prática, acúmulo de tarefas, execução de atividades, compromissos, afazeres, submissão consciente e inconsciente; uma prática sem reflexão, que é também o primeiro passo para a depressão: vida só pelos impulsos. na experiência o sujeito depara-se com a simbolização, é preciso um ócio, um tempo para si para entender do que se tratou a vivência; sim, acredite: o ócio, o tempo para si, é permitido. eis então a possibilidade da transformação da vivência em experiência.
o estar só pode ser recebido na função de reflexão, e pode ser bem recebido no entendimento de que se pode sim estar junto.
no entanto, aquilo que não se simboliza, ou que não se pode simbolizar é o que traz angústia, ora, eis então a necessidade de re-significar.
a angústia, para lacan, é aquilo que se aproxima do real, e por tratar-se do real, não se pode significar totalmente, apenas parcialmente, porém, entenda-se aqui que há uma possibilidade. (fernanda pereira - reflexões de fragmentos a la montoto)
(figura: sunday, 1926, edward hopper)

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

delicadeza, gentileza gera gentileza

"já cansei do seu mau humor
me deixa em paz
faz tempo que não me lembro mais quem sou

você parece que esquece
que o que me atrai é a sua delicadeza
gentileza gera gentileza"
(claudia dorei - gentileza)

http://www.myspace.com/claudiadorei

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

venha descansar na minha cama...



"nossa senhora da paz
a bailarina do circo
vem beijar a pele da cidade
as feridas
os jardins
a pressão
e o motor

nossa senhora dos sonhos
a trapezista do circo
venha descansar na minha cama
traga toda luz que há no céu
traga toda luz que há no chão
leva meu atalho e minha sorte
no movimento da rua
as feridas
os jardins
a pressão
e o motor"
(nossa senhora da paz - cordel do fogo encantado)
.
.
.
"nossa... paz...
[nossos]... sonhos
venha descansar na minha cama"

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

quero ter olhos pra ver...

"o sol, há de brilhar mais uma vez
a luz, há de chegar aos corações
do mal, será queimada a semente

o amor, será eterno novamente

é o juízo final, a história do bem e do mal
quero ter olhos pra ver, a maldade desaparecer"
(nelson cavaquinho e elson soares - juízo final)
.
.
.
'o amor, será eterno novamente
quero ter olhos pra ver...'


(deusa dos orixás e juízo final - clara nunes, 1975)

domingo, 20 de setembro de 2009

'o peito como bússola'



"já que não estamos aqui só à passeio.
já que a vida enfim não é recreio.

eu vou, na bubuia, eu vou...

flutuo, navegando sem tirar os pés do chão,
365 dias na missão...

na bubuia eu vou...

subo o rio no contra fluxo,
à margem da loucura,
na fé que a vida
após a morte continua.

eu vou, na bubuia, eu vou...

entoo uma toada em dia de noite escura,
na sequência, na cadência, na fissura...

eu vou na bubuia, eu vou...

eu vou suave, bebendo água na cuia.
olho aberto, papo reto,
o peito como bússola.
nenhum receio do lado negro da lua,
que me guia, na bubuia.

eu vou, na bubuia, eu vou...

o destino é o mar onde vou me desfazer,
contente a deslizar na correnteza do viver

na bubuia eu vou...
eu vou, na bubuia, eu vou"
(anélis assumpção, thalma de freitas e céu - bubuia)
.
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'o peito como bússola,
nenhum receio do lado negro da lua'

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

"felicidade é quase tudo ou quase nada"

"sonhei que eu tava no futuro,
sonhei sonhei,
e resolvi pular um muro,
sonhei sonhei,
mas muro já não existia.
até aí tava legal, criei um muro virtual,
mas o chip de coragem que eu tinha implantado
não era compatível com o pulo instalado,
então me teletransportei para o passado
e quis comer um frango assado.
aquele certamente não era o meu dia,
num passado tão remoto não tinha padaria.
pensei em tomar uma cerveja gelada
mas a geladeira ainda não tinha sido inventada!
'vamo caçar', disse o cara do lado.
'deixa pra lá, onde é que é o supermercado?'
voltou com uma galinha viva
pensei: 'meu Deus que coisa primitiva'
com um sorriso nos lábios, sem maldade, ele falou contente:
'torce o pescoço até matar e depois depena na água quente'
eu disse: 'chega, eu quero voltar pro presente'.
acordei sobressaltado, tomei um banho,
sentei na cama pelado e compus um samba estranho.
olhei o relógio era meio-dia, eu fui a pé até a padaria.
'eu quero aquele bem passado e uma gelada
que eu vou comer lá na calçada'.
sentei na guia e chorei (chorei , chorei)
sentei na guia e chorei (chorei , chorei).
lambi a lágrima salgada,
compreendi: felicidade é quase tudo ou quase nada.
...équasenadéquasetudoquasetudouquasenada..."
(samba estranho, adoniran barbosa e itamar assumpção, por juçara marçal e kiko dinucci)
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no presente.

domingo, 23 de agosto de 2009

quase feliz...

"quase era feliz, não como sonhou"
(rodrigo campos)

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

'dentro da caixa torácica...'

"eu trago aqui dentro da caixa torácica um coração batendo, como sendo o único certificado de que eu estou vivo"
(maurício baia)

sábado, 25 de julho de 2009

'doce doce doce'...

"a alma da gente dá vida às cousas externas, amarga ou doce, conforme ela for ou estiver, e o texto de 'fêdélia' é dulcíssimo"
(machado de assis - memorial de aires)
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apelo pela doçura...

sexta-feira, 17 de julho de 2009

delicada...



"espera, que o tempo trata da solidão
melancolia sem ilusão não é nada
aguarda, tira essa mágoa do coração
ensina o verso a virar canção delicada
então pagar pra ver a vida ensinar
que a dor é vai e vem
qual onda no mar
e se faltar alguém no seu despertar
é bom se refazer até o amor chegar
espera, que o tempo trata da solidão
melancolia sem ilusão não é nada
repara, que um dia é pouco pra perceber
que a escuridão faz por merecer a alvorada
então pagar pra ver a vida ensinar
que a dor é vai e vem
qual onda no mar
e se faltar alguém no seu despertar
é bom se refazer até o amor chegar
espera que o tempo trata da solidão
melancolia sem ilusão não é nada
aguarda, tira essa mágoa do coração
e ensina o verso a virar canção delicada"
(teresa cristina e grupo semente - delicada, de teresa cristina e zé renato)

sexta-feira, 3 de julho de 2009

gente aberta



"eu não quero mais conversa
com quem não tem amor
gente certa, gente aberta
se o amor chamar eu vou

pode ser muito bonito
o mar,o sol e a flor
mas se não abrir comigo
não vou, não vou, não vou

as pessoas que caminham
seja lá para onde for
é uma gente que é tão minha
que eu vou, que eu vou, que eu vou, que eu vou

quem não tem nada com isso
veio a vida e não amou
gente certa, gente aberta
se o amor chamar
eu vou, eu vou, eu vou, eu vou, eu vou, eu vou

eu não quero mais conversa
com quem não tem amor
gente certa, gente aberta
se o amor chamar eu vou
eu vou, eu vou, eu vou"
(gente aberta - o rei, roberto carlos e erasmo carlos - por silvia machete)

sábado, 27 de junho de 2009

'me exponho a tanta emoção...'

"o que trago dentro de mim preciso revelar
é o sol do mundo de tristeza que a vida me dá
me exponho a tanta emoção
nasci pra sonhar e cantar
na busca incessante do amor
que desejo encontrar

tanta gente por aí
que não terá,
a metade do prazer que sei gastar.
do amor sou madrugada
que padece não esquece
e que há sempre um amanhã
para o seu pranto secar"
(nasci pra sonhar e cantar - dona ivone lara e décio carvalho)

sexta-feira, 26 de junho de 2009

ai...



"ai, mas que saudade eu tenho da bahia
ai, se eu escutasse o que mamãe dizia
'bem, não vá deixar a sua mãe aflita
a gente faz o que o coração dita
mas esse mundo é feito de maldade e ilusão'

ai, se eu escutasse hoje eu não sofria
ai, essa saudade dentro do meu peito
ah, se ter saudade e ter algum defeito
eu pelo menos mereço o direito
de ter alguém com que eu possa me confessar

ponha-se no meu lugar
e veja como sofre um homem infeliz
que teve que desabafar
dizendo a todo mundo o que ninguém diz
vejam que situação
e vejam como sofre um pobre coração
pobre de quem acredita
na glória e no dinheiro para ser feliz"

(dorival caymmi - saudade da bahia)

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ai...


quarta-feira, 24 de junho de 2009

... a espera...

"tu me prometestes voltar
e o que é a promessa
senão um nome,
o que é a espera
senão uma felicidade adiada;
um nome de dicionários.
a concentração das horas
em mim
a síntese do meu corpo
em mim
é como eu te busco
sem evocar nomes
ou promessas substantivas
te busco
como um vulto de homem
- um fantasma
e como homem
- um amante vivo.
estamos atentos a ti,
eu e o meu coração".
(mariana ianelli, "mandante dos céus", in: trajetória de antes)
(figura: a dolorosa, paul cézanne)

sábado, 23 de maio de 2009

'assim é que o amar e o amor...'

“tenta então, continuou sócrates, também a respeito do amor dizer-me: o amor é amor de nada ou de algo?
- de algo, sim.
- isso então, continuou ele, guarda contigo, lembrando-te de que é que ele é amor; agora dize-me apenas o seguinte: será que o amor, aquilo de que é amor, ele o deseja ou não?
- perfeitamente - respondeu o outro.
- e é quando tem isso mesmo que deseja e ama que ele então deseja e ama, ou quando não tem?
- quando não tem, como é bem provável - disse agatão.
observa bem, continuou sócrates, se em vez de uma probabilidade não é uma necessidade que seja assim, o que deseja deseja aquilo de que é carente, sem o que não deseja, se não for carente. é espantoso como me parece, agatão, ser uma necessidade; e a ti?
- também a mim - disse ele.
tens razão. pois porventura desejaria quem já é grande ser grande, ou quem já é forte ser forte?
- impossível, pelo que foi admitido.
- com efeito, não seria carente disso o que justamente é isso.
- é verdade o que dizes.
...
disse então sócrates: - não é isso então amar o que ainda não está à mão nem se tem, o querer que, para o futuro, seja isso que se tem conservado consigo e presente?
- perfeitamente - disse agatão.
- esse então, como qualquer outro que deseja, deseja o que não está a mão nem consigo, o que não tem, o que não é ele próprio e o de que é carente; tais são mais ou menos as coisas de que há desejo e amor, não é?
- perfeitamente - disse agatão.
- vamos então, continuou sócrates, recapitulemos o que foi dito. não é certo que é o amor, primeiro de certas coisas, e depois, daquelas de que ele tem precisão?
- sim - disse o outro.
- depois disso então, lembra-te de que é que em teu discurso disseste ser o amor; se preferes, eu te lembrarei. creio, com efeito, que foi mais ou menos assim que disseste, que aos deuses foram arranjadas suas questões através do amor do que é belo, pois do que é feio não havia amor. não era mais ou menos assim que dizias?
- sim, com efeito - disse agatão.
- e acertadamente o dizes, amigo, declarou sócrates; e se é assim, não é certo que o amor seria da beleza, mas não da feiúra? concordou.
- não está então admitido que aquilo de que é carente e que não tem é o que ele ama?
- sim - disse ele.
- carece então de beleza o amor, e não a tem?
- é forçoso.
- e então? o que carece de beleza e de modo algum a possui, porventura dizes tu que é belo?
- não, sem dúvida.
- ainda admites por conseguinte que o amor é belo, se isso é assim?
e agatão: - é bem provável, ó sócrates, que nada sei do que então disse?
- e no entanto, prosseguiu sócrates, bem que foi belo o que disseste, agatão. mas dize-me ainda uma pequena coisa: o que é bom não te parece que também é belo?
- parece-me, sim.
- se portanto o amor é carente do que é belo, e o que é bom é belo, também do que é bom seria ele carente.
- eu não poderia, ó sócrates, disse agatão, contradizer-te; mas seja assim como tu dizes.
- é a verdade, querido agatão, que não podes contradizer, pois a sócrates não é nada difícil.
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e quem é seu pai - perguntei-lhe - e sua mãe?
- é um tanto longo de explicar, disse ela; todavia, eu te direi. quando nasceu afrodite, banqueteavam-se os deuses, e entre os demais se encontrava também o filho de prudência, recurso. depois que acabaram de jantar, veio para esmolar do festim a pobreza, e ficou pela porta. ora, recurso, embriagado com o néctar - pois vinho ainda não havia - penetrou o jardim de zeus e, pesado, adormeceu. pobreza então, tramando em sua falta de recurso engendrar um filho de recurso, deita-se ao seu lado e pronto concebe o amor. Eis por que ficou companheiro e servo de afrodite o amor, gerado em seu natalício, ao mesmo tempo que por natureza amante do belo, porque também afrodite é bela. e por ser filho o amor de recurso e de pobreza foi esta a condição em que ele ficou. primeiramente ele é sempre pobre, e longe está de ser delicado e belo, como a maioria imagina, mas é duro, seco, descalço e sem lar, sempre por terra e sem forro, deitando-se ao desabrigo, às portas e nos caminhos, porque tem a natureza da mãe, sempre convivendo com a precisão. segundo o pai, porém, ele é insidioso com o que é belo e bom, e corajoso, decidido e enérgico, caçador terrível, sempre a tecer maquinações, ávido de sabedoria e cheio ele recursos, a filosofar por toda a vida, terrível mago, feiticeiro, sofista: e nem imortal é a sua natureza nem mortal, e no mesmo dia ora ele germina e vive, quando enriquece; ora morre e de novo ressuscita, graças à natureza do pai; e o que consegue sempre lhe escapa, de modo que nem empobrece o amor nem enriquece, assim como também está no meio da sabedoria e da ignorância. Eis com efeito o que se dá.
nenhum deus filosofa ou deseja ser sábio - pois já é -, assim como se alguém mais é sábio, não filosofa.
nem também os ignorantes filosofam ou desejam ser sábios; pois é nisso mesmo que está o difícil da ignorância, no pensar, quem não é um homem distinto e gentil, nem inteligente, que lhe basta assim. não
deseja portanto quem não imagina ser deficiente naquilo que não pensa lhe ser preciso.
...
e eu lhe disse: - muito bem, estrangeira! é belo o que dizes! sendo porém tal a natureza do amor, que proveito ele tem para os homens?
- eis o que depois disso - respondeu-me - tentarei ensinar-te. tal é de fato a sua natureza e tal a sua origem; e é do que é belo, como dizes. ora, se alguém nos perguntasse: em que é que é amor do que é belo o amor, ó sócrates e diotima? ou mais claramente: ama o amante o que é belo; que é que ele ama?
- tê-lo consigo - respondi-lhe.
- mas essa resposta - dizia-me ela - ainda requer uma pergunta desse tipo: que terá aquele que ficar com
o que é belo?
- absolutamente - expliquei-lhe - eu não podia mais responder-lhe de pronto a essa pergunta.
- mas é, disse ela, como se alguém tivesse mudado a questão e, usando o bom em vez do belo, perguntasse: vamos, sócrates, ama o amante o que é bom; que é que ele ama?
- tê-lo consigo - respondi-lhe.
- e que terá aquele que ficar com o que é bom?
- isso eu posso - disse-lhe - mais facilmente responder: ele será feliz.
- é com efeito pela aquisição do que é bom, disse ela, que os felizes são felizes, e não mais é preciso ainda perguntar: e para que quer ser feliz aquele que o quer? ao contrário, completa parece a resposta.
- é verdade o que dizes - tornei-lhe.
- e essa vontade então e esse amor, achas que é comum a todos os homens, e que todos querem ter sempre consigo o que é bom, ou que dizes?
- isso - respondi-lhe - é comum a todos.
- e por que então, ó sócrates, não são todos que dizemos que amam, se é que todos desejam a mesma coisa e sempre, mas sim que uns amam e outros não?
- também eu - respondi-lhe - admiro-me.
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assim é que o amar e o amor não é todo ele belo e digno de ser louvado, mas apenas o que leva a amar belamente.
...
o amante do caráter, que é bom, é constante por toda a vida, porque se fundiu com o que é constante. ora, são esses dois tipos de amantes que pretende a nossa lei provar bem e devidamente, e que a uns se aquiesça e dos outros se fuja. por isso é que uns ela exorta a perseguir e outros a evitar, arbitrando e aferindo qual é porventura o tipo do amante e qual o do amado.
...
um só caminho então resta à nossa norma, se deve o bem-amado decentemente aquiescer ao amante.”
(o banquete, platão – a.c. 416)

quinta-feira, 21 de maio de 2009

objetivo principal...

"no processo de desenvolvimento do indivíduo, o programa do princípio do prazer, que consiste em encontrar a satisfação da felicidade, é mantido como objetivo principal. a integração numa comunidade humana, ou a adaptação a ela, aparece como uma condição dificilmente evitável, que tem de ser preenchida antes que esse objetivo de felicidade possa ser alcançado. talvez fosse preferível que isso pudesse ser feito sem essa condição. em outras palavras, o desenvolvimento do indivíduo nos parece ser um produto da interação entre duas premências, a premência no sentido da felicidade, que geralmente chamamos de 'egoísta', e a premência no sentido da união com os outros da comunidade, que chamamos de 'altruísta'"...
(freud, o mal-estar na civilização, 1930)

quarta-feira, 20 de maio de 2009

latinha...

"um dia eu estava num barquinho com algumas pessoas, membros de uma família de pescadores de um pequeno porto. nessa ocasião, nossa bretanha ainda não estava nas condições de grande indústria, nem da frota de pesca, o pescador pescava em sua casquinha de noz, com seus riscos e perigos. eram esses riscos e perigos que eu gostava de partilhar, mas não eram riscos e perigos o tempo todo, havia também seus dias de bom tempo. um dia, então, em que esperávamos o momento de puxar as redes, o chamado joãozinho, vamos chamá-lo assim – ele desapareceu, como toda a sua família, exatamente pela tuberculose, que era nessa época a doença verdadeiramente ambiente na qual toda aquela camada social se deslocava – me mostra alguma coisa que boiava na superfície das ondas. era uma latinha, e mesmo precisamente, uma lata de sardinha. ela boiava ali ao sol, testemunha da indústria de conserva, que estávamos, aliás, encarregados de alimentar. ele respelhava ao sol. e joãozinho me diz – tá vendo aquela lata? tá vendo? pois ela não tá te vendo não!
...
o que é luz tem a ver comigo, me olha, e graças a essa luz, no fundo do meu olho, algo se pinta – que de modo algum é simplesmente a relação construída, o objeto sobre o qual demora a filosofia – mas que é impressão, que é borboteamento de uma superfície que não é, de antemão, situada para mim em sua distância. aí está algo que faz intervir o que é elidido na relação geometral – a profundidade do campo, com tudo que ela apresenta de ambíguo, de variável, de não dominado de modo algum por mim. é mesmo mais ela que me apreende, que me solicita a cada instante, e faz da paisagem coisa diferente de uma perspectiva, coisa diferente do que chamei de quadro.
...
e eu, se sou alguma coisa no quadro, é também sob essa forma de anteparo, que ainda há pouco chamei de mancha."
(jacques lacan – seminário 11 – a linha e a luz)
(figura: os embaixadores, quadro de hans holbein, 1533)
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lá.tinha...

domingo, 17 de maio de 2009

...alma deserta

"nada consigo fazer
quando a saudade aperta
foge-me a inspiração
sinto a alma deserta
um vazio se faz em meu peito
de fato eu sinto
em meu peito um vazio
me faltando as tuas carícias
as noites são longas
e eu sinto mais frio.
procuro afogar no álcool
a tua lembrança
mas noto que é ridícula
a minha vingança
vou seguir os conselhos
de amigos
e garanto que não beberei
nunca mais
e com o tempo
essa imensa saudade que sinto
se esvai"
(peito vazio - cartola e elton medeiros)

quinta-feira, 14 de maio de 2009

"a vida veste ainda sua mais dura pele..."


"...meu caminho divide,
de nome, as terras que desço.
entretanto a paisagem,
com tantos nomes, é quase a mesma.
a mesma dor calada,
o mesmo soluço seco,
mesma morte de coisa
que não apodrece mas seca.
...
vou na mesma paisagem reduzida à sua pedra.
a vida veste ainda sua mais dura pele..."
(do riacho as éguas ao ribeiro do mel - joão cabral de mello neto)
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apelo pela doçura das coisas...

domingo, 3 de maio de 2009

um chorinho...






















"ai, o meu amor, a sua dor, a nossa vida
já não cabem na batida
do meu pobre cavaquinho
ai, quem me dera
pelo menos um momento
juntar todo sofrimento
pra botar nesse chorinho
ai, quem me dera ter um choro de alto porte
pra cantar com a voz bem forte
e anunciar a luz do dia
mas quem sou eu
pra cantar alto assim na praça
se vem dia, dia passa
e a praça fica mais vazia

vem, morena,
não me despreza mais, não
meu choro é coisa pequena
mas roubado a duras penas
do coração
meu chorinho
não é uma solução
enquanto eu cantar sozinho
quem cruzar o meu caminho,
não para não

mas eu insisto
e quem quiser que me compreenda
até que alguma luz acenda,
este meu canto continua
junto meu canto a cada pranto, a cada choro,
até que alguém me faça coro pra cantar na rua..."
(um chorinho - chico buarque)
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'este meu canto continua... até que alguém me faça coro...'

sexta-feira, 1 de maio de 2009

isso é coisa da antiga



"na tina, vovó lavou, vovó lavou
a roupa que mamãe vestiu quando foi batizada
e mamãe quando era menina teve que passar, teve que passar
muita fumaça e calor no ferro de engomar

hoje mamãe me falou de vovó, só de vovó
disse que no tempo dela era bem melhor
mesmo agachada na tina e soprando no ferro de carvão
tinha-se mais amizade e mais consideração

disse que naquele tempo a palavra de um mero cidadão
valia mais que hoje em dia uma nota de milhão
disse afinal que o que é de verdade ninguém mais hoje liga
isso é coisa da antiga, ai na tina...

hoje o olhar de mamãe marejou, só marejou
quando se lembrou do velho, o meu bisavô
disse que ele foi escravo mas não se entregou à escravidão
sempre vivia fugindo e arrumando confusão
disse pra mim que essa história do meu bisavô, negro fujão
devia servir de exemplo a "esses nego pai joão"

disse afinal que o que é de verdade
ninguém mais hoje liga
isso é coisa da antiga..."
(coisa da antiga - wilson moreira e nei lopes - clara nunes)


'o que é de verdade ninguém mais hoje liga'...

sexta-feira, 24 de abril de 2009

é saudade...

"a gente encostava no frio, escutava o orvalho, o mato cheio de cheiroso, estalinho de estrelas, o deduzir dos grilos e a cavalhada a peso. dava o raiar, entreluz da aurora, quando o céu branquece. ao o ar indo ficando cinzento, o formar daqueles cavaleiros, escorrido, se divisava. e o senhor me desculpe, de estar retrasando em tantas minudências. mas até hoje eu represento em meus olhos aquela hora, tudo tão bom; e, o que é, é saudade."
(grande sertão: veredas - guimarães rosa)
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um bem-querer bem...

terça-feira, 21 de abril de 2009

cante para mim pablo neruda

"ninguém me escuta, posso falar por fim,
um menino nas trevas é um morto.
não sei por que tinha que morrer
para seguir sem rumo no deserto.

de tanto amar cheguei a tanta tristeza,
de tanto combater fui destruído
e agora entre as mãos de tereza
dormirá a cabeça de um bandido.

foi meu corpo primeiro separado,
degolado depois de ter caído,
não clamo pelo crime consumado,
só reclamo por meu amor perdido.
...
mas como saberão os que virão
entre a névoa, a verdade desnuda?
daqui a cem anos, peço, companheiros,
que cante para mim pablo neruda

não pelo mal que tenha ou não tenha feito,
nem pelo bem, tampouco, que sustive,
mas porque a honra foi meu direito
quanto perdi o único bem que tive.

e assim na inquebrantável primavera
passará o tempo e se saberá minha vida,
que em sendo amarga e também é justiceira
não a dou por ganha nem perdida.

e como toda vida passageira
foi talvez como um sonho confundida.
os violentos mataram minha quimera
e por herança deixo minhas feridas."
(fala a cabeça de murieta, na barcarola - de pablo neruda)
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fê,ridas e voltas

segunda-feira, 20 de abril de 2009

pra eu passar



"abra o caminho dos passos
abra o caminho do olhar
abra caminho tranquilo pra eu passar

tomba o mal de joelho
só levantando o ogó
dobra a força dos braços que eu vou só

'guardaelêonaorum
cobachiredessifunfum'
cuida de mim que eu vou pra te saldar"

(kiko dinucci e bando afromacarrônico)

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abra caminho tranquilo pra eu passar

quarta-feira, 8 de abril de 2009

vai meu bloco...






















"dei um aperto de saudade no meu tamborim
molhei o pano da cuíca com as minhas lágrimas
dei meu tempo de espera para a marcação e cantei
a minha vida na avenida sem empolgação
vai manter a tradição
vai meu bloco tristeza, pé no chão..."
(tristeza pé no chão, clara nunes)

segunda-feira, 2 de março de 2009

carnaval além do belo horizonte


"além do horizonte deve ter algum lugar bonito prá viver em paz
onde eu possa encontrar a natureza, alegria e felicidade
com certeza...

lá nesse lugar o amanhecer é lindo
com flores festejando mais um dia que vem vindo...
onde a gente pode se deitar no campo
se amar na relva escutando o canto dos pássaros...

aproveitar a tarde sem pensar na vida
andar despreocupado sem saber a hora de voltar...
bronzear o corpo todo sem censura
gozar a liberdade de uma vida sem frescura...

se você não vem comigo
tudo isso vai ficar no horizonte esperando por nós dois

se você não vem comigo
nada disso tem valor: de que vale o paraíso sem amor?

além do horizonte existe um lugar bonito e tranqüilo prá gente se amar..."

(além do horizonte - roberto carlos / erasmo carlos... por nina nara)


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você vem comigo?

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

...about life










“- isso é a vida...
- sim.
- sabe o que a vida é?
- a vida é... uma pequena risada horrível no meio de uma marcha da morte forçada à caminho do inferno.
- não, não é.
- uma interminável lamúria de tristeza.
- não. a vida é um salto único para a felicidade.
- ... eu sei...
- escutou isso?
- ...

- nunca mais vai jogá-la fora?
- nunca.
- é a única assim.
- eu sei.”
dedication (filme de justin theurox)

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

alvorar.dá



"- não gostaria de poder lhe dizer isto?...

- está se excedendo...
- por que?
- esse comportamento tem de cessar imediatamente!
- está vendo? é exatamente isso! não pode parar porque está dentro de nós e não se para algo que está dentro de nós.
- não está dentro de mim.
- claro que está.
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- no meio do caminho eu pensei: o que estou fazendo?... tinha a vida certa!
- nada disso existe.
- ...isso não devia ocorrer assim!
- não deve ocorrer de nenhuma maneira em especial...
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- o que vai acontecer agora?
- eu não sei.
- e você sabe o que vai acontecer agora?
- não, não sei.
- eu também não!"
(a vida em preto e branco, 'pleasantville' - roteiro, produção e direção de gary ross)


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"o sol colorindo é tão lindo é tão lindo... tingindo tingindo"
(cartola, carlos cachaça e hermínio bello de carvalho)

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

"é o que me interessa"



daqui desse momento
do meu olhar pra fora
o mundo é só miragem
a sombra do futuro
a sobra do passado
assombram a paisagem
quem vai virar o jogo
e transformar a perda
em nossa recompensa
quando eu olhar pro lado
eu quero estar cercado
só de quem me interessa

às vezes é um instante
a tarde faz silêncio
o vento sopra a meu favor
às vezes eu pressinto
e é como uma saudade
de um tempo que ainda não passou
me traz o teu sossego
atrasa o meu relógio
acalma a minha pressa
me dá sua palavra
sussurre em meu ouvido
só o que me interessa

a lógica do vento
o caos do pensamento
a paz na solidão
a órbita do tempo
a pausa do retrato
a voz da intuição
a curva do universo
a fórmula do acaso
o alcance da promessa
o salto do desejo
o agora e o infinito
só o que me interessa

(é o que me interessa - lenine/dudu falcão - labiata - lenine)
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é só o que me interessa...


fê...

bom ano aos bons...!