terça-feira, 24 de agosto de 2010

tempo para amar...

há alguns dias ganhei uns livros de uma amiga amada... entre eles, o livro "por um fio", de drauzio varella. o misto entre o desejo de ler pelos que bem falam e a resistência por meus receios ao que soa muito pop, fizeram-me pensar algumas vezes antes de começar a ler... e eis que fui ver do que se tratava. o livro fala de algumas experiências do dr. drauzio com seus pacientes com doenças terminais ou progressivas, diante da iminência da morte ou da possibilidade de cuidados. suponho que o fato de eu ter trabalhado como psicóloga por cerca de um ano com pacientes terminais e progressivos tenham aumentado minha identificação com os relatos do livro e as sensações tidas durante as escutas dos pacientes.
não tenho a intenção de indicar a leitura do livro, fazer alguma crítica, ou mesmo um grande elogio. esse escrito é uma tentativa de por em palavras a sempre forte sensação que os lidos deram-me, a de que o que há de mais importante é de fato o amor.
os momentos mais delicados da doença e mesmo o fim da vida eram sempre acompanhados do desejo do amor, de ter ao lado os bons afetos. os que viveram uma vida de amargura e desprezo, e que nesse momento encontravam-se sozinhos, grande era o lamento e as queixas... a sensação era de injustiça, desamparo e negação dos caminhos traçados por cada qual para deparar-se com esse fim, e sim, a busca - com o pouco de força de vida que restava - por cuidados, por companhia, por afetos.
por outro lado, lindas eram as descobertas e os encontros com o tão quisto amor e o não morrer sozinho.

"... foi a vez de ele vir sozinho à consulta. não usava o terno cinza nem gravata; vestia camisa azul-clara e malha amarela, sua expressão estava descontraída, e os olhos tinham um frescor juvenil. não parecia a mesma pessoa.
no final do exame, disse-lhe que nunca o vira tão bem e perguntei a que se devia aquela mudança. sorriu, envergonhado como um adolescente:
- ao amor!
estava vivendo com uma outra pessoa... disse que foi o sorriso feminino mais encantador já dirigido a ele. uma alegria instantânea ressuscitou em seu espírito."

também...

"enquanto a saúde de seu israel permitiu, o casal visitou cidades européias, praias, lugares exóticos, e alugou um barco para passeio nos fins de semana. ele vinha para as consultas queimado de sol, otimista com a evolução da enfermidade, evidentemente feliz, como reconheceu uma vez em que elogiei a elegância das roupas novas:
- passei da idade das ilusões, mas foi a coisa mais maravilhosa que poderia me acontecer... precisei ficar velho e com uma doença que não perdoa para descobrir o prazer de viajar ao lado de uma mulher bonita, sincera e bem-humorada."

ou mesmo...

"aliás, nenhum lugar ou bem material tem significado algum. quando o tempo é curto o que interessa é estar atento aos pequenos prazeres, como ouvir o sabiá que me acordou esta manhã, e aproveitar em toda a intensidade a companhia das pessoas queridas."

é delicado pensar em como passamos nossas vidas ocupadas com os afazeres, com os compromissos sociais, com as responsabilidades do trabalho, com a preocupação em atender as demandas que tão pouco sentido fazem e que por vezes nem se sabe de onde vem... e deixar de lado justamente o que é a grande demanda, a demanda de amor... sobretudo supor que os afetos são de menos importância, ou mesmo que sempre estará lá em algum lugar reservado para atender o narcisismo de cada qual quando desejarem. há também os que são descrédulos do amor, das relações, das trocas, e não param para fazer “questão” da descrença que só fomenta a distância que o tão quisto amor toma em situações como esta.
é delicado pensar que para muitos é preciso uma vida inteira, e quiçá a morte, para dar-se conta do quão sublimes são os bons afetos, do quão apaziguador é o bom amor.

texto: fernanda pereira
livro: por um fio, drauzio varella , companhia das letras, 2004.
figura: "repouso na fuga para o egito", de caravaggio, 1595

terça-feira, 17 de agosto de 2010

objeto perdido

voltando para casa, em um ônibus, vi uma moça que havia levantado para descer em seu ponto voltar ao local em que estava sentada, com olhares de quem procura algo que perdeu. olhou ali por alguns segundos, e aparentemente nada achou. voltou para a porta e desceu. meia dúzia de pessoas que estavam ao redor do tal assento rapidamente se deu conta da tal procura e lá estavam todos olhando para ver se viam o que foi perdido. a moça nos instantes anteriores não havia feito grandes expressões, tampouco comentou algo... apenas olhou, não achou e foi embora... os que ali estavam, por alguns segundos mais continuaram olhando nos arredores do assento... como quem quer achar algo, algo perdido, que nem sabiam o que era. fiquei a pensar em como as pessoas estão à procura do suposto "objeto perdido" (o tal dito na psicanálise)... como se soubessem do que se trata, como se realmente em algum momento o tivessem tido, real.mente.
(figura: mãe e filho, picasso, 1921)

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

no jongo...

"ali no jongo, alguém tá dizendo alguma coisa..."




sexta-feira, 13 de agosto de 2010

é o "mais amor"

vídeos do programa "café filosófico", pelo psicanalista flávio gikovati, com o tema "o amor que se vai".

-> o aconchego principal do amor deve derivar das afinidades intelectuais e do respeito pela individualidade, é o novo tipo de romance, é o “mais amor”.















excertos do programa:

-> o amor é o remédio para a dor do desamparo, que nasce quando nascemos.

-> condição uterina é o paraíso.
-> o nascimento é a expulsão do paraíso.

-> o amor é interpessoal, depende de um sujeito especial, em especial.

-> o sexo é excitação, é prazer positivo, não depende de um desprazer anterior. – sexo se pratica.
-> o amor é paz, é prazer negativo, depende de um desprazer. – amor se sente.

-> o tipo que ama mais intensamente, que é o generoso, é mais dedicado e interessado sexualmente, e geralmente com o parceiro do tipo egoísta. dois generosos podem se complicar - a mulher generosa dá e o homem generoso tem sua vontade diminuída. os casais que se dão bem por vezes têm vida sexual relativamente pobre.

-> a escolha do objeto adulto, que vai substituir a mãe, se dá pela admiração, conforme dizia platão, no banquete.

-> quanto mais baixa a minha autoestima, maior a tendência de admirar o meu oposto.

-> o amor não resiste a qualquer tipo de contratempo. acabou a admiração a coisa sentimental se vai.

-> trabalhar para eu deixar de ser o que sou, e não para o outro deixar de ser o que é!

-> queremos encontrar alguém para ser a imagem do nosso ideal ou queremos corrigir no outro aquilo que deveria ser corrigido em nós mesmos.

-> o tempo é o remédio efetivo para o luto. os mais ocupados são mais competentes para suportar o luto.

-> a dor da ruptura é da transição, não da solidão. a dor da solidão vem depois da transição, quando se acomoda na solidão.

-> ou você tem um parceiro que é eu seu oposto ou que é seu afim. com o oposto o individualismo não cresce, reforçam sim o egoísmo, duas metades que precisam cada vez mais um do outro.

-> o aconchego principal do amor deve derivar das afinidades intelectuais e do respeito pela individualidade, é o novo tipo de romance, é o “mais amor”.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

lançamento do livro "Poemas Noturnos" de Samuel Malentacchi

No dia 11 de agosto de 2010, próxima quarta-feira, teremos o lançamento do livro "Poemas Noturnos", do amigo e poeta Samuel Malentacchi. Será no Club Noir, Rua Augusta, 331. Todos estão convidados e são bem-vindos.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

da repressão e do repressor

triste, feio isso... isso das pessoas reprimirem as outras, de supor que devem conter o desejo do outro, de se colocar num lugar em que elas por si só bastam, sobretudo de mobilizar culpa nos outros pelos seus desejos. indíviduos assim costumam ser poliqueixosos, tudo é amargo e infeliz. encarnam com toda energia a insatisfação... e mobilizar também a insatisfação do outro é quase um prazer perverso. é lamentável, diga-se. os queixosos e repressores tendem a achar que os outros tem habilidades místicas de adivinhar qual o desejo do outro. a questão é: se eu não falar do meu suposto desejo, como saberão? é uma das coisas mais sábias e sublimes falar do desejo, sobretudo, saber-se e permitir-se desejante. quiçá que cada qual ache seus caminhos, se desfaça dessas amarras e possa construir seus próprios nós, seus próprios nós...