"- mestre.
uma doença me consome e me inferniza,
a mocidade e o espírito
resulta de uma chaga que nunca cicatriza.
sendo o mais sábio clínico do mundo,
és também filósofo notável,
do peito humano auscultador profundo,
curai-me desse mal inexorável
que me devora o organismo fibra a fibra,
que me enevoa o cérebro e o condensa.
eu tenho um coração que já não vibra
suporto uma cabeça que não pensa.
uma doença me consome e me inferniza,
a mocidade e o espírito
resulta de uma chaga que nunca cicatriza.
sendo o mais sábio clínico do mundo,
és também filósofo notável,
do peito humano auscultador profundo,
curai-me desse mal inexorável
que me devora o organismo fibra a fibra,
que me enevoa o cérebro e o condensa.
eu tenho um coração que já não vibra
suporto uma cabeça que não pensa.
- o meu amigo tem razão e dessa chaga deveras padece.
contudo, a enfermidade, esse mal que o devora,
é um produto fatal do século de agora
o tédio é uma terrível e mortal loucura
a treva interior, a grande noite escura.
no entanto um choque, um abalo violento
pode curá-lo, creia, apenas num momento.
diga-me: alguma vez amou?
nunca seu peito sangrou por uma paixão ardente?
como a água do mar que se agita e encapela
no soturno rumor do vento e da procela!
- nunca.
- pois bem, meu caro!
procure uma agitação constante
um prazer infindo
um gozo triunfante.
já visitou a grécia, oriente, terra santa?
essas terras que evocam e encantam!
apreciou as belezas da cidade eterna?
que deslumbra e amesquinha a geração moderna!
- em infinitas orgias passei a mocidade
e viajando pela terra, vi a humanidade
como andarilho errante, as mulheres todas
seus lábios beijei em bacanais e bodas.
mulher nenhuma eu vi sobre a terra tamanha
que para mim não fosse uma visão estranha
como parti, voltei, sem encontrar alívio
para esse mal que assim me faz cativo.
- então, como último recurso te receito o circo.
o famoso palhaço que a cidade encanta
palmas e aclamações da população arranca
talvez lhe restitua a gargalhada franca.
- um farsante assim, tão querido e aclamado
tem um riso de morte, um riso mascarado
que encobre a dor sem fim do tédio e do cansaço
foi lá que percebi meu mestre, “sou eu esse palhaço.”
(o tédio, de heinrick heine)
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