
claro que o pai dela ficaria furioso, tentaria me expulsar da casa, por aquele gesto ofensivo, grosseiro. cebolas são entidades malcheirosas, culinárias, eu estava chamando sua filhinha de cozinheira. coitado. normal. literal. via do jeito como todo mundo via. estava de posse de sua razão. não lia pablo neruda. só lia os jornais, via o jornal nacional, usava cueca branca, pijama de bolinha, no restaurante sempre pedia o mesmo prato, não levava a mulher ao motel, e fazia romaria a aparecida. comia tédio como gosto. todo mundo come. é o normal...”
(rubens alves, em “cenas da vida”, referindo-se à “ode à cebola”, de neruda)
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