sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Tecnologia deixa a privacidade cada vez mais anacrônica

"Desde a invenção da câmera fotográfica, o poder da imagem não para de crescer.
A fotografia é como um vírus que se transmuta para adaptar-se a cada novo surto tecnológico. Seu último grito se chama Google Street View.
O Google Maps, que tanto nos encantou, com voos e zooms em ambientes desconhecidos e familiares, agora perambula pelas ruas flagrando cenas constrangedoras e desconcertantes.
Tudo não apenas se tornou fotografável, mas também exibível, recurso que põe o dedo diretamente na ferida da privacidade. Vigilância/ privacidade é o binômio-chave que abre as portas de ambivalências, paradoxos, desafios e dilemas insolúveis do mundo digital.
Já estávamos acostumados e até adaptados às câmeras de vigilância: "Sorria, você está sendo filmado". E sorríamos mesmo. A vigilância é ambivalente. Serve para proteger, mas também invadir.
Foi-se o tempo em que privacidade significava "direito de estar só". Desde a explosão do rádio e da TV, ninguém mais está realmente só. Agora, os acelerados avanços tecnológicos tornam a privacidade cada vez mais anacrônica.
À vigilância das câmeras, que registram imagens pelos quatro cantos dos exteriores da cidade e de seus interiores, adiciona-se um tipo mais híbrido, onipresente e invisível, que emergiu com os computadores e se radicaliza com os dispositivos móveis ligados a redes e com tecnologias de geolocalização.
Sem nos darmos conta, a qualquer momento, em qualquer lugar, somos observados e nossos dados são absorvidos para destinos que desconhecemos.
Câmeras, satélites, celulares, cartões de fidelidade, chips de identificação, sites de relacionamento e mesmo a Wikipédia espreitam-nos sem trégua, pois esses dispositivos não descansam, não saem de cena. A adaptação a esse mundo parece exigir de nós, seres carnais, o mesmo poder de transmutação dos seres tecnológicos".
(Lucia Santaella, especial para a Folha de São Paulo, 06.10.2010)

Um comentário:

fellini? disse...

ola fernanda, conhece o bookcrossing? quer participar????

abraços
fellini?