quarta-feira, 6 de outubro de 2010

delicatessen

retrata um pouco do tanto da espécie humana, dos que os homens, tal qual pedaço de carne que somos, são diante de supostas situações de privação. com certo humor e inteligência nos coloca diante do que se pode ser, ou mesmo do que outrora teria sido. sobretudo nos convida a nos colocar e/ou questionar o lugar de sujeitos que ocupamos. sujeitos no sentido do que realmente o termo trata, é sujeito porque se sujeita, se sujeita à cultura, e é ela que nos possibilita viver juntos. o lindo do filme é que um palhaço é que faz retrato da sensibilidade e da possibilidade da beleza humana, do sujeito no mundo , que lembra da possibilidade das re.lações, da necessidade do perdão para que as pessoas possam viver juntas, afinal sempre haverá falhas e faltas, e da genuinidade de dar-se ao trabalho de pensar no que pode levar alguém ter determinadas escolhas. destaque à cena - aos meus olhos, a mais linda do filme - do violoncelo e do serrote que opostamente sofisticados, juntos são capazes de tocar e tocar e nos lembrar da fragilidade e da fortaleza que é ser sujeito humano. o triste é pensar que no dado momento da nossa política é também um palhaço – opostamente querido e sensível ao do filme - que está nos pondo diante da “nossa barbárie”, falta de questionamento e lugar no mundo. é um palhaço que retrata um tanto da nossa situação e faz quase vir um “é uma puta falta de sacanagem”, como disse a “sábia” fã dos pops e coloridos meninos “cantantes” da tal banda que ultimamente ganhou destaque e um tanto de prêmios na música brasileira, tal qual as bandas coloridamente semelhantes... e que também nos convidam para a possibilidade de reflexão sobre um tanto do que tem nos rodeado e nos questionarmos que posição queremos ocupar diante do que nos é oferecido, diante de nossos próprios sintomas, diante de nossa vontade de viver, e fazer de nossa existência algo da ordem do prazer que podemos ter enquanto sujeitos da cultura, enquanto sujeitos relacionais, e sim, podemos ter prazer... justamente a medida do prazer que nos permite viver.
(filme: delicatessen, de jean-pierre jeunet e marc caro, frança, 1991)
(texto: fernanda pereira)

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